O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do
Leste de Roraima abrange uma área de aproximadamente quatro milhões de hectares
com cerca de 42 mil índios de 7 etnias diferentes. Fica no extremo norte e
leste do estado e faz fronteira com a Venezuela e a Guiana. A falta de médicos
nas aldeias que compõem o Distrito é um problema que afeta milhares de índios
brasileiros. Agora, com o Mais Médicos, esta realidade começa a mudar. O DSEI do
Leste de Roraima recebeu dois profissionais do programa e existe a expectativa
de receber mais 10 em 2014.
“Temos a disponibilidade de contratar 11 médicos desde 2011,
mas nunca conseguimos passar de quatro médicos para atender esses Povos. Faltam
profissionais que queiram trabalhar em áreas remotas”, explica Dorotéia
Reginalda Gomes, coordenadora do DSEI do Leste de Roraima. Ela disse que sempre
procurou flexibilizar bastante a carga horária para tentar atrair médicos.
Otan de Lima Pereira, 31 anos, nasceu na área indígena
Raposa Serra do Sol no extremo norte de Roraima. Otan é da etnia Macuxi, a mais
populosa da região. Quando criança, já pensava em ser médico. “A saúde da minha
comunidade era muito precária. Quase não tinha visita médica, era só
enfermeiro. E até hoje pessoas morrem nessas áreas por doenças que podem ser
prevenidas”, contou Otan, que criou o desejo de ser médico ao viver essa
realidade.
“Gostaria de estudar medicina aqui mesmo em Roraima, mas
infelizmente não foi possível. No período que eu tentei, em 2002 e 2003, eram
apenas 20 vagas para 30 mil candidatos aqui na Universidade Federal de Roraima
(UFRR)”, justifica Otan. Foi então que surgiu a oportunidade de estudar
medicina na Venezuela. Lá, Otan formou-se médico da família. Agora, atua pelo
Mais Médicos e é responsável pelos polos bases de Pedra Branca e Maturuca,
regiões remotas do estado que só se chega de carro 4x4.
Já na primeira temporada na comunidade, ele atendeu uma
senhora com fortes dores na barriga e diagnosticou uma apendicite. Ela foi
encaminha ao hospital e operada. “Se não fosse atendida logo e o apêndice
tivesse estourado, talvez ela fosse a óbito”, acredita Juliana Rithil, técnica
de enfermagem que trabalha no polo base de Pedra Branca. Otan conta que
percebeu alguns problemas mais recorrentes em Pedra Branca. “Os problemas de
saúde mais comuns são a diabetes, dermatites e hipertensão arterial”, enumera o
médico.
Além de Otan, uma equipe de profissionais de saúde com
enfermeiros, dentista, agentes de saúde, entre outros, faz a assistência da
saúde da população. Juliana disse que desde que começou a trabalhar na
comunidade, há um ano e um mês, só um médico havia passado por lá e durado
somente cinco dias. Agora ela espera que Otan fique na comunidade. “Ele fez
muitos atendimentos, gostamos muito dele. É uma pessoa boa para trabalhar nesta
área. Por ser indígena ele sabe trabalhar com indígena”, comenta Juliana.
“Os médicos não indígenas enfrentam algumas dificuldades por
não conhecerem as culturas e costumes desses povos. Aqui o costume é sempre ir
primeiro ao curandeiro, pajé, benzedeiro e só depois vão até nós”, conta Otan.
“Procuro orientar as pessoas para que se a dor for física que nos procure
primeiro. Mas se a doença for espiritual não tem problema, o pajé pode
resolver”, explica.
O exemplo de Otan mostra que formar médicos da própria
região e comunidades atendidas pode ser uma forma de fixar esses profissionais
nas comunidades mais afastadas. “Gostaria de trabalhar sempre nesta região
porque aqui eu conheço os povos, as pessoas, as lideranças. Aqui está minha
origem, minhas raízes e me identifico muito com essa área”, ressalta o
indígena.
Mais Médicos para os Povos Indígenas - Quarenta e sete
profissionais do Programa Mais Médicos chegam na próxima semana a 16 Distritos
Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Esses novos médicos somam-se a 75 que já
estão atuando nas aldeias, totalizando 122. O anúncio foi feito durante a
abertura da 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena (5ª CNSI),
realizada na noite de segunda-feira (2/12), em Brasília (DF) pelo ministro da
Saúde, Alexandre Padilha. Com a chegada de novos profissionais, o programa
beneficiará aproximadamente 212 mil indígenas. Além dos profissionais
garantidos pelo programa, a assistência à saúde indígena é feita por 264
médicos que atuam nos 34 DSEI.
Conteúdo extraído do Blog da Saúde
Arte: Wesley Mcallister / AscomAGU
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