quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Estudantes Indígenas da UnB marcam presença na 5ª CNSI


Rayanne (esq.) e Suliete participam pela primeira vez de uma Conferência Nacional de Saúde

Um grupo de 40 estudantes indígenas da Universidade de Brasília (UnB) está participando ativamente da 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena (5ª CNSI), realizada em Brasília (DF), no período de 2 a 6 de dezembro. Os alunos foram convidados a integrar a equipe de relatoria como facilitadores, apoiando o trabalho da Comissão Nacional de Relatoria, responsável pela consolidação das propostas aprovadas na 5ª CNSI. Uma iniciativa inédita, já que é a primeira vez que uma Conferência de Saúde abre espaço para participação de estudantes como apoiadores.

“Essa é a primeira vez que venho a uma Conferência de Saúde Indígena. Está sendo muito importante para nós participar de todos os espaços de diálogo, ouvir as discussões e matar as saudades de nossos ‘parentes’ que vieram das aldeias”, explica a estudante de enfermagem Rayanne Cristine Máximo França, 21 anos, da etnia Baré, povo que vive na Região do Alto Rio Negro no Amazonas.

Acompanhada da aluna de Engenharia Ambiental, Suliete Gervásio, 26 anos, também pertencente à etnia Baré, só que da aldeia Santa Izabel, no Médio Rio Negro (AM). “Encontrar ‘os parentes’ da minha aldeia foi muito bom, mandar e receber notícias de como estão todos. Até tirei fotos para mostrarem a minha mãe”, conta com alegria, Suliete. As duas estudantes destacaram a possibilidade de ampliar o olhar sobre a política indigenista e a troca de saberes com as outras etnias, como as experiências mais enriquecedoras dessa participação.

Os próprios estudantes indígenas que estão na Conferência também já expressam essa multidisciplinaridade, pois além dos discentes dos cursos de Saúde, como Enfermagem e Medicina, integram o grupo, alunos indígenas dos cursos de Serviço Social, Biologia e Engenharia Ambiental.

Segundo a professora da disciplina de Saúde Indígena da Faculdade de Saúde da UnB, Luciana Benevides, que também integra a Comissão Nacional de Relatoria da 5ª CNSI, a presença dos estudantes indígenas na Conferência funciona como um espaço de ensino-aprendizagem. “Pois também amplia a compreensão de como se dá o processo político de realização de uma conferência de saúde”, explica.

 Apesar de novatas na Conferência de Saúde Indígena, o processo de participação no movimento indígena e de exercício do Controle Social não é novidade para as estudantes. As duas integram a diretoria da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB (AAIUnB). A organização, que reúne cerca de 60 associados é responsável por fazer o acolhimento dos estudantes indígenas que chegam à Universidade. A AAIUnB atua em parceria com a Coordenação de UnB, que responde institucionalmente pelo acolhimento dos indígenas na Universidade.

“Assim como foi para nós, o processo de adaptação tanto na UnB quanto em Brasília é bem difícil, pois além de tudo ser muito diferente da nossa realidade na aldeia, a grande maioria chega aqui sozinho e nós acabamos sendo a referência para eles”, conta Rayanne. Tanto ela quanto Suliete deixaram suas famílias no Amazonas e chegaram sozinhas em Brasília. Hoje as duas dividem o mesmo apartamento e também o trabalho na Associação e no Movimento Indígena.

Atuação profissional
No 5º semestre de enfermagem, Rayanne faz estágio no Ambulatório de Saúde Indígena do Hospital Universitário de Brasília (HUB). O serviço oferece atendimento especializado aos indígenas referenciados pela Casa de Saúde Indígena (Casai) de Brasília, bem como aos estudantes indígenas da UnB que necessitem de assistência médica.

“Estou gostando muito do trabalho no ambulatório, pois lá tenho a vivencia de como é promover um atendimento no contexto multiprofissional e intercultural, similar a como seria um atendimento na aldeia”. Ela explica que além de ajudar os pacientes indígenas, que se sentem mais seguros quando sabem que ela também é índia, o trabalho no ambulatório ajuda os outros profissionais não indígenas a compreender as especificidades desse atendimento. “Essa é um experiência muito construtiva para mim, pois posso ter contato com realidades distintas de outras etnias que passam pelo atendimento no ambulatório”, ressalta.

O interesse pela Saúde Indígena surgiu muito cedo, já que Rayanne é filha de um ex-Agente Indígena de Saúde (AIS) e liderança muito atuante no movimento indígena, Valdenir França, conhecido como “Cacareco”. “Sempre vi meu pai envolvido com as questões da Saúde Indígena, ele sempre me levou em reuniões e encontros desde pequena é foi isso que me despertou o interesse por trabalhar pela saúde do meu povo.”


Já Suliete relaciona o seu aprendizado na área de Gestão Ambiental com o tema da saúde. “Os conflitos relacionados à demarcação das reservas indígenas é um assunto que está em pauta. E isso tem toda a relação com a saúde, pois a terra é tudo para nós, sem ela não temos saúde”, finaliza.

Por Aêde Cadaxa
Foto: Luís Oliveira - Sesai/MS


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