Rayanne (esq.) e Suliete participam pela primeira vez de uma Conferência Nacional de Saúde |
Um grupo de 40 estudantes indígenas da Universidade de
Brasília (UnB) está participando ativamente da 5ª Conferência Nacional de Saúde
Indígena (5ª CNSI), realizada em Brasília (DF), no período de 2 a 6 de
dezembro. Os alunos foram convidados a integrar a equipe de relatoria como
facilitadores, apoiando o trabalho da Comissão Nacional de Relatoria,
responsável pela consolidação das propostas aprovadas na 5ª CNSI. Uma
iniciativa inédita, já que é a primeira vez que uma Conferência de Saúde abre
espaço para participação de estudantes como apoiadores.
“Essa é a primeira vez que venho a uma Conferência de Saúde
Indígena. Está sendo muito importante para nós participar de todos os espaços
de diálogo, ouvir as discussões e matar as saudades de nossos ‘parentes’ que
vieram das aldeias”, explica a estudante de enfermagem Rayanne Cristine Máximo
França, 21 anos, da etnia Baré, povo que vive na Região do Alto Rio Negro no
Amazonas.
Acompanhada da aluna de Engenharia Ambiental, Suliete
Gervásio, 26 anos, também pertencente à etnia Baré, só que da aldeia Santa
Izabel, no Médio Rio Negro (AM). “Encontrar ‘os parentes’ da minha aldeia foi
muito bom, mandar e receber notícias de como estão todos. Até tirei fotos para
mostrarem a minha mãe”, conta com alegria, Suliete. As duas estudantes destacaram
a possibilidade de ampliar o olhar sobre a política indigenista e a troca de
saberes com as outras etnias, como as experiências mais enriquecedoras dessa
participação.
Os próprios estudantes indígenas que estão na Conferência
também já expressam essa multidisciplinaridade, pois além dos discentes dos
cursos de Saúde, como Enfermagem e Medicina, integram o grupo, alunos indígenas
dos cursos de Serviço Social, Biologia e Engenharia Ambiental.
Segundo a professora da disciplina de Saúde Indígena da
Faculdade de Saúde da UnB, Luciana Benevides, que também integra a Comissão
Nacional de Relatoria da 5ª CNSI, a presença dos estudantes indígenas na
Conferência funciona como um espaço de ensino-aprendizagem. “Pois também amplia
a compreensão de como se dá o processo político de realização de uma
conferência de saúde”, explica.
“Assim como foi para nós, o processo de adaptação tanto na
UnB quanto em Brasília é bem difícil, pois além de tudo ser muito diferente da
nossa realidade na aldeia, a grande maioria chega aqui sozinho e nós acabamos
sendo a referência para eles”, conta Rayanne. Tanto ela quanto Suliete deixaram
suas famílias no Amazonas e chegaram sozinhas em Brasília. Hoje as duas dividem
o mesmo apartamento e também o trabalho na Associação e no Movimento Indígena.
Atuação profissional
No 5º semestre de enfermagem, Rayanne faz estágio no Ambulatório de Saúde
Indígena do Hospital Universitário de Brasília (HUB). O serviço oferece
atendimento especializado aos indígenas referenciados pela Casa de Saúde
Indígena (Casai) de Brasília, bem como aos estudantes indígenas da UnB que
necessitem de assistência médica.
“Estou gostando muito do trabalho no ambulatório, pois lá
tenho a vivencia de como é promover um atendimento no contexto
multiprofissional e intercultural, similar a como seria um atendimento na
aldeia”. Ela explica que além de ajudar os pacientes indígenas, que se sentem
mais seguros quando sabem que ela também é índia, o trabalho no ambulatório
ajuda os outros profissionais não indígenas a compreender as especificidades
desse atendimento. “Essa é um experiência muito construtiva para mim, pois
posso ter contato com realidades distintas de outras etnias que passam pelo
atendimento no ambulatório”, ressalta.
O interesse pela Saúde Indígena surgiu muito cedo, já que
Rayanne é filha de um ex-Agente Indígena de Saúde (AIS) e liderança muito
atuante no movimento indígena, Valdenir França, conhecido como “Cacareco”.
“Sempre vi meu pai envolvido com as questões da Saúde Indígena, ele sempre me
levou em reuniões e encontros desde pequena é foi isso que me despertou o
interesse por trabalhar pela saúde do meu povo.”
Já Suliete relaciona o seu aprendizado na área de Gestão
Ambiental com o tema da saúde. “Os conflitos relacionados à demarcação das
reservas indígenas é um assunto que está em pauta. E isso tem toda a relação
com a saúde, pois a terra é tudo para nós, sem ela não temos saúde”, finaliza.
Por Aêde Cadaxa
Foto: Luís Oliveira - Sesai/MS
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