quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Palestrantes e conferencistas debatem eixos temáticos da 5ª CNSI em Cuiabá


As atividades da etapa distrital da 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena (5ª CNSI) do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Cuiabá continuaram na tarde dessa terça-feira (10) com o debate dos quatro eixos temáticos que norteiam a conferência.

Atenção Integral e Diferenciada nas Três Esferas de Governo
Para abordar o tema “Atenção Básica, Média e Alta Complexidade”, a doutora da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Wildce Araújo Costa, foi a convidada. Ela lembrou que embora a lei diga que a União tem que prover a saúde, isso não exclui o dever do indivíduo, da família e das empresas. “No caso da saúde indígena, mesmo tendo a Secretaria Especial de Saúde Indígena, que é do Governo Federal, a garantia também é dever dos estados e municípios”. Ainda, segundo Wildce, a atenção aos indígenas precisa ser diferenciada porque se tratam de povos diferentes. “Faço uma crítica porque muito do que foi pensado saiu da cabeça de quem não é índio e foi colocado dentro da aldeia. Direito à saúde não se dá, se conquista. Precisamos conseguir atenção integrada em todos os sentidos”, finalizou.

A Mestre Maria das Graças Figueiredo, da Escola de Saúde Pública do Mato Grosso, falou sobre os desafios na área de RH. Para ela, o papel do Agente de Saúde Indígena (AIS) deve ser o de interlocutor entre as medicinas indígena e ocidental. “A educação profissional do AIS é inicial e continuada, por isso, ele pode exercer a atividade mesmo com baixa escolaridade”. Atualmente, todos os Agentes de Saúde Indígena dos quatro Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) do Mato Grosso – Cuiabá, Xavante, Kaiapó e Xingu - já foram certificados com um programa de qualificação.

A também doutora da UFMT, Maria Clara Weiss, abordou os avanços e desafios no Financiamento e Gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. Ela afirmou que a autonomia do DSEI e a criação da Sesai foram os grandes avanços para os índios, e que um dos desafios atuais é que os profissionais que vão para a saúde indígena não são formados nas comunidades, mas em hospitais. “O profissional tem que trabalhar com a comunidade e não para a comunidade. Não é fácil reverter essa situação”, salientou.

Etnodesenvolvimento e Segurança Alimentar e Nutricional
A Mestre da Operação Amazônia Nativa (OPAN), Andrea Jakubasco, disse que o desenvolvimento se faz por várias vias e o povo é quem decide o próprio destino. Para ela, o grande problema é que os brasileiros não conhecem seus povos originários. “A economia dos povos indígenas, por exemplo, se baseia em três eixos, dar, receber e contribuir. O povo ocidental não pode continuar achando que é só acumular e não vai acabar. Vocês têm muito a contribuir com nosso desenvolvimento, por isso, não se calem”.


Controle Social e Gestão Participativa
Para a liderança indígena da etnia Paresi, Genilson Kezomae, a participação dos índios na administração não acontece de forma absoluta porque ela é feita pelos gestores. Para ele, o Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) e o Controle Social são instrumentos dos indígenas na busca pelos direitos. “O papel do conselheiro é ver como está o trabalho, ele não pode confundir com o trabalho do gestor”, explicou.


Saneamento e Edificações em Área Indígena
O último eixo temático abordado teve como palestrante o doutor da Universidade Federal do Mato Grosso, José Afonso Carreiro. Ele contou que a palha usada nas malocas cria uma espessura que protege e não deixa o calor entrar, como se a casa ‘respirasse’. “É uma tecnologia, um jeito próprio de fazer. Cada povo tem um tipo de material de acordo com a condição em que vive. Uma estrutura interessante que pouco conhecemos”. José mostrou algumas obras em aldeias, inclusive um protótipo que foi montado dentro da UFMT para alavancar projetos através das edificações indígenas.

As atividades da etapa distrital da 5ª CNSI do DSEI Cuiabá continuam nesta quarta (11) com a formação dos Grupos de Trabalho, que vão discutir cada um dos quatro eixos temáticos da conferência. No último dia do evento, sexta-feira (12), será realizada a plenária com aprovação das propostas apresentadas, eleição dos 16 delegados que vão participar da etapa nacional, em Brasília (DF), e leitura e aprovação das Moções.


Por Graziela Oliveira
De Santo Antônio de Leverger (MT)


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